quinta-feira, 27 de maio de 2010

A BP não vai ficar abalada

“A BP não vai ficar abalada”
QUA , 26/5/2010

Ainda não se sabe quanto a petrolífera British Petroleum (BP), responsável por um dos maiores desastres ambientais da história dos Estados Unidos, terá de desembolsar para conter o óleo e limpar as águas do Golfo do México. Até agora, o cálculo é algo em torno de US$ 33 milhões ao dia. Isso só para fechar o buraco na rocha. Sem contar as indenizações. A empresa anunciou nesta semana que vai gastar mais US$ 500 milhões para financiar pesquisas sobre os efeitos ambientais do vazamento. “Do ponto de vista financeiro, a BP não vai ter problemas”, afirma Gabriel Alves da Costa Lima, pesquisador do Centro de Estudos do Petróleo da Unicamp. “O fluxo de caixa da empresa suporta tranquilamente. Ela é grande demais para ficar abalada.”

A indústria do petróleo, uma das maiores do mundo, acumula um volume de negócios um tanto avantajado. Uma comparação entre dois episódios dá conta de sua grandeza. A Exxon Mobil, dona do navio americano Exxon Valdez que trombou num recife do Alasca e derramou uma quantidade de óleo sem precedentes, gastou cerca de US$ 10 bilhões depois da tragédia só com indenizações. E ainda não acabou. A companhia continua sofrendo processos. Detalhe: a maior empresa aérea do mundo não vale um terço dessa cifra. Em maio passado, nasceu nos Estados Unidos um gigante da aviação, formado a partir da fusão da United Airlines e da Continental. A negociação gira em torno de US$ 3 bilhões.

Até agora, a BP parece não ter sido tão castigada pelo mercado financeiro devido ao acidente. A despeito da queda de suas ações em 25% em um mês, a empresa não foi a única a sofrer com o mau desempenho dos papeis. “Quedas de preço de petróleo ocorrem em virtude de redução na demanda”, diz Lima. “Com a crise econômica na Europa, aliada à lenta recuperação americana, não se espera grandes aumentos na demanda no curto prazo.”

Época – Como o mercado financeiro está reagindo ao vazamento?

Gabriel Alves da Costa Lima – O preço das ações da BP sofreu queda de U$ 60 (em 20 de abril) para U$ 45 (em 19 de maio). Houve também queda no preço das ações de outras empresas. No caso da Exxon, os papeis variaram de US$ 68,70 para U$ 64,05. As ações da Petrobras passaram de U$ 43,59 para U$ 37,74. Para o mesmo período, houve uma queda no preço do petróleo em torno de 16%. Quedas de preço de petróleo ocorrem em virtude de redução na demanda. Como atualmente há uma crise econômica na Europa, aliada à lenta recuperação americana, não se espera grandes aumentos na demanda de petróleo no curto prazo. Ao que parece, a queda do preço do petróleo foi causada pela incerteza com a crise. Esta, por sua vez, foi a responsável pela queda no preço das ações.

Época – Então o acidente não é o responsável pela queda das ações da BP?

Lima – No caso específico da BP, o acidente de vazamento de óleo pode ter contribuído, mas seguramente o principal fator para a queda das ações tem sido, até o momento, o preço do petróleo.

Época – O que deve mudar daqui em diante?

Lima – Pode ocorrer alteração nas agências reguladoras. Elas devem aumentar o nível de exigência com itens de segurança. E também na estrutura necessária para conter vazamentos de óleo. Do lado das empresas, seguramente vai haver uma maior preocupação em desenvolver tecnologias que evitem problemas semelhantes. No entanto, há sempre o risco de existirem eventos desconhecidos que podem causar acidentes.

Época – Quanto custa remediar um acidente como este?

Lima – Até agora, sabe-se que o custo da contenção do óleo derramado chega a US$ 33 milhões ao dia. O custo final da remediação depende de alguns fatores: decisão da agência americana, número de pessoas atingidas na costa e ações judiciais. Se o óleo não se mover para as praias, o custo poderá ser mais baixo e vai depender principalmente da decisão da Agência Americana de aplicar multas. No caso de atingir a costa, certamente haverá centenas ou mesmo milhares de processos para reparação de perdas. Neste caso, os gastos sobem. Alguns analistas falam em U$ 22 bilhões.

Época – Na sua opinião, as agências reguladoras vão ficar mais restritivas?

Lima – Isso depende do resultado da investigação. E se vai ser possível realmente conhecer as causas. Caso fique provado que as causas do acidentes poderiam ter ser evitadas, certamente haverá mais exigências de inspeções, testes, entre outros por parte das agências. Em caso contrário, não penso que algo venha a mudar.

Época – Como isso impacta as empresas?

Lima – Isso também depende das causas do acidente. Suponhamos que seja erro humano. Assim, a conseqüência seria investir em treinamento, automatização, redundâncias, etc. Mas, caso as causas não pudessem ser previstas ou evitadas, possivelmente haverá mais investimentos em tecnologia para buscar ações que possam evitar as causas destes acidentes.

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